sábado, 15 de maio de 2010

Fidelidade

Fidelidade

Dos três aspectos da castidade, o primeiro é de todos conhecido: é a fidelidade, primeira forma de domínio da razão sobre a paixão. É verdade que parece fácil no caso que vimos tratando nestas páginas, o dos esposos que se amam. Porém, o ideal que aqui se descreve nem sempre se atinge.

Ainda que os esposos tendam ambos para ele, pode haver, e há muitas vezes, no decorrer de uma vida, momentos de depressão. Pode acontecer que os esposos estejam separados durante períodos bastante longos. A guerra, no decorrer da qual estas páginas foram escritas, separou inúmeras famílias durante anos. A fidelidade pode então tornar-se difícil.

A fidelidade tem as suas provas. Muito frequentemente, por volta do décimo ano do casamento, as melhores famílias passam por uma crise. O hábito roubou ao amor conjugal o encanto da descoberta; os anos, ao passar, foram portadores de cuidados que vêm destruir o encanto da vida comum de um lar, cuja simples vista basta para recordar os pequenos aborrecimentos quotidianos; a idade deixa cair sobre o rosto da amada os primeiros sinais de lassidão. Os esposos aborrecem-se um do outro, o colóquio torna-se pesado; surgem as discussões por motivos fúteis. Se não se toma cuidado, a tentação espreita por todos os lados a vida conjugal.

Além disso, a infidelidade é susceptível de diversas gradações. Ela não é exclusivamente carnal, como também o não é o amor. Há homens de negócios que, não falando praticamente com a mulher, se expandem interminavelmente com a secretária ou com a mecanógrafa. A fidelidade conjugal implica também o não ter, fora do lar, qualquer intimidade que se venha interpor entre os esposos.

Os lares em que a fidelidade carnal subsiste, mas onde os corações se afastam, não podem realizar a perfeição da união conjugal. É por vezes menos grave para a vida do lar uma infidelidade carnal do que o alheamento espiritual daquele cuja afeição e pensamento pairam noutro lugar. E, entretanto, muitos esposos julgam ser fiéis pelo simples facto de não atraiçoarem carnalmente.
(Jacques Leclercq)

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